sexta-feira, 2 de junho de 2017

[fotografia p&b]

 Presentemente eu posso me considerar um sujeito de sorte. 
Porque apesar de muito moço, me sinto são, salvo e forte.

E eu me lembro muito bem do dia em que eu cheguei.
Jovem vindo do interior pra cidade grande.
Os pés cansados e feridos de andar légua tirana.
E lágrimas nos olhos de ler o Pessoa.

Pois o que pesa no interior, pela lei da gravidade,
disso Newton já sabia! Cai no centro de uma grande cidade.
Fortaleza violenta, corre os carros pelas ruas, meu sangue pela veias, com minhas mudanças, novo rumo, destino passagem.

Mesmo vivendo assim, não me esqueci de amar,
que o homem é pra mulher e o coração pra gente dar,
mas a mulher, a mulher que eu amei
não pode me seguir não.
Esses casos de família e de dinheiro eu nunca entendi bem.
O sol não é tão bonito pra quem vem do interior
e vai viver por aí com gente importante nessa terra de gigantes.

A noite fria me ensinou a amar mais o meu dia
e pela dor eu descobri o poder da alegria
e a certeza de que tenho coisas novas,
coisas novas pra dizer.

Hoje tenho trinta e dois anos de sonho
De sangue e de América do Sul.
Por força deste destino,
Um tango argentino
Me vai bem melhor que um blues.
Sei, que assim falando pensas,
que esse desespero é moda em 2017.
Eu quero é que esse escrito torto,
feito faca, corte a carne de vocês.

Sim, nunca mais meu pai falou: "She's leaving home"
E meteu o pé na estrada, "Like a Rolling Stone..."
Nunca mais eu convidei minha menina,
para correr no meu carro... (loucura, chiclete e som)

E quero meu corpo bem livro do peso inútil da alma.
Quero a violência calma de humanamente amar.
Eu quero quebrar o quebranto do permitido e do proibido.
E nego o que nega os sentidos direito e dom de gozar.
A minha verdade está no vinho "In vino veritas",
que me faz gaúcho, anjo torto,
que retempera o meu corpo nos pecados capitais,
pois a pedra no sapato de quem vive em linha reta
É a sentença concreta,
viver e brincar e pensar tanto faz,
substantivo comum um infinito presente,
este, objeto direto, reto, repleto, completo,
presente, infinitamente.

A minha história é... talvez,
é talvez igual a tua, jovem que desceu do norte,
que na cidade grande já foi jogado na rua...
E que ficou desnorteado, como é comum no seu tempo...
E que ficou desapontado, como é comum no seu tempo...
E que ficou apaixonado e violento como, como você...

Eu sou como você.
Eu sou como você.
Eu sou como você... que me ler agora.
Eu sou como você.
Como você.

E conheço o meu lugar...

E o meu lugar é onde você quer que ele seja,
não quero o que a cabeça pensa, eu quero o que a alma deseja:
Arco-íris, anjo rebelde, eu quero o corpo e tenho pressa de viver.
E quando a vida me violentar novamente,
pedirei ao bom Deus que me ajude,.
Falarei para a vida:
"Vida, pisa devagar, meu coração cuidado é frágil;
Meu coração é como vidro, como um beijo de novela"

Talvez você possa compreender a minha vida,
o meu som, a minha fúria e essa pressa de viver.
E esse jeito de deixar sempre de lado a certeza,
arriscando tudo de novo com paixão,
andar caminho errado pela simples alegria de ser.

(...)
{pequeno perfil de um cidadão comum}


por Gelson Bessa:.

(*)

 (**)

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