terça-feira, 30 de agosto de 2016

Subindo... Descendo...

Nós estamos sempre querendo subir,
escalando, subindo, desejando subir mais.
Isso não é ruim, desde que não seja perdido o prazer de descer.
Ensinam-nos a subir sempre e que não se pode descer.
Esquecem que subir é correr riscos de cair,
que subir pode ser o que nos faz ter esforço na vida,
mas principalmente pelo fato de descer,
algo natural no exercício de viver.

Montanhas.
Prédios.
Escolaridade.
Profissão.
Carreira...

Subindo... Subir pra onde?
Descendo... Descer por quê?

Gelson Bessa:.

Queda's

Durmo e sonho que estou caindo.
Acordo e sinto que estou caindo.
Ando e temo que esteja caindo.
Sento e leio que estou caindo.
Escrevo que estou caindo.
Percebo que estou sempre caindo.
Penso na infância e lembro minhas quedas.
Elas me fizeram aprender a andar.
Penso na adolescência e lá estou caindo.
Elas me fizeram crescer.
Penso no homem adulto e lá estou caindo.
Elas me fazem sentir dores no corpo e na alma.
Vejo o futuro repetir o passado de quedas.
Sinto que quando mais velho também estarei caindo.
E ao morrer cairei pra cima.

(*)
Lembro-me de ver você caindo,
 pegar tua mão e te ajudar a levantar.

(**)
Lembro-me de cairmos juntos da bicicleta,
pegar tua mão e sentir tua força ao me levantar.

(***)
Quando era criança, ao cair, tinha a minha mãe pra me segurar.
Quando jovem, tinha o meu pai pra me ajudar a levantar.
Quando adulto, desejo sempre ter uma mulher.
Quando já velho, terei a minha mulher.
Quando eterno, ainda terei Fé.


Gelson Bessa:.

N'outro tempo

Buzinaços entram pelo ouvido,
ar poluído pelo nariz,
fumaça tóxica pela boca.
Sinto falta da força do teu abraço...
E do sustento do teu ombro.
Ficar em silêncio até gritar.
Compartilhar as dores, as raivas, os erros.
Falar de sentimentos, sem interrogação...
Até saber o que fazer com cada coisa.

O tempo não passa, ainda são dez pra seis.
O coração bate mais rápido que o ponteiro do relógio.
Busco os livros, sentar pra ler, sentir pra escrever.
Não consigo pensar em outra coisa.
Estou inerte ao som de Procol Harum, canções de poeta.
Nietzsche está morto, mas nós ainda temos a mesma idade.
E quem sabe Deus...  N'outro tempo.


Gelson Bessa:.

Memórias

Bem sei que o mundo real só trará ameaças.
Por isso sou grato, sou muito grato por coisas surreais.
Sou grato pela segurança dos conselhos de minha Mãe.
Sou grato pela segurança dos conselhos de meu Pai.
Pelas histórias e estórias do meu Pai e de minha Mãe.
Pela segurança dos causos de trancoso do meu avô.
Pelas cabanas e casas imaginárias que já tive.
Pelo futebol no fundo do quintal com meu irmão caçula.
Pelo capitão de feijão herói do almoço.
Pelos sonhos de eterna-idade com os meus.
Sou grato pelas manobras de skate na adolescência.
Pelo Rock'n Roll, pelo som do baixo que não toquei.
Pela antiga máquina de escrever, pelos quadrinhos.
Pela eterna-idade com a mulher amada.
Pelos filhos que não chegaram ainda.
Pelos amigos que tive e que tenho ou que ainda vou ter.
Pelo baião rei do almoço, ontem e hoje.
Pelas brincadeiras que repetirei em busca da eterna-idade.
Pela eterna-idade do meu coração e mente.
Pela segurança do mundo dos sonhos.
Pela incrível magia da leitura.
Pela música, pela poesia.
Pelas composições do Belchior.
Pelo sono que me bateu.
Pelos sonhos que tenho ou que vou ter.
Pela Palavra.
Até amanhã...
E se Deus quiser eu volto pra dizer:
 “É possível ter segurança no curto sonho da vida.”
(...)
E pra agradecer novamente pelas minhas memórias.

Gelson Bessa:.

Frio...

Frio...
Minha Mãe, meu Pai.
Frio...
Meus Irmãos.
Frio...
O Vento.
Frio...
O Corpo.
Frio...
Silêncio.
Frio...
Solidão.


Gelson Bessa:.

[eu E tu]

Tua, minha, nossa fotografia.
Eu te vejo...  E tu me ver.
Imagem e Semelhança.
Tua, minha, nossa vida Poesia.
Eu te escrevo... E tu me ler.
Dar e Receber.
Tua, minha, nossa Caminhada.
Eu te componho... E tu me acompanhas.
Letra e Música.


Gelson Bessa:.