quarta-feira, 14 de setembro de 2011

Pablo...


Posso escrever os versos mais tristes esta noite. 
Escrever, por exemplo: "A noite está estrelada,
e tiritam, azuis, os astros lá ao longe". 
O vento da noite gira no céu e canta. 

Posso escrever os versos mais tristes esta noite.
Eu amei-a e por vezes ela também me amou. 
Em noites como esta a tive em meus braços.
Beijei-a tantas vezes sob o céu infinito.
Ela amou-me, por vezes eu também a amava.
Como não ter amado os seus grandes olhos fixos. 
Posso escrever os versos mais tristes esta noite.
Pensar que não a tenho. Sentir que já a perdi.
Ouvir a noite imensa, mais imensa sem ela.
E o verso cai na alma como no pasto o orvalho. 
Importa lá que o meu amor não pudesse guardá-la.
A noite está estrelada e ela não está comigo.
Isso é tudo. Ao longe alguém canta. Ao longe.
A minha alma não se contenta com havê-la perdido. 
Como para chegá-la a mim o meu olhar procura-a.
O meu coração procura-a, ela não está comigo.
A mesma noite que faz branquejar as mesmas árvores.
Nós dois, os de então, já não somos os mesmos. 
Já não a amo, é verdade, mas tanto que a amei.
Esta voz buscava o vento para tocar-lhe o ouvido.
De outro. Será de outro. Como antes dos meus beijos.
A voz, o corpo claro. Os seus olhos infinitos. 
Já não a amo, é verdade, mas talvez a ame ainda.
É tão curto o amor, tão longo o esquecimento.
Porque em noites como esta a tive em meus braços,
a minha alma não se contenta por havê-la perdido. 
Embora seja a última dor que ela me causa,
e estes sejam os últimos versos que lhe escrevo.


Pablo Neruda.
por Gelson Bessa:.

domingo, 10 de julho de 2011

Por Minutos...


Observei a imensidão do mar
O sorriso e a inocência das crianças
Enquanto admirava, perguntava,
Procurava entendê-lo ou decifrá-lo,
As crianças brincavam e se banhavam
Naquela imensidão sem pergunta nenhuma
Senti nelas o frescor do mar
E alegria nos risos e nos pulos livres

Meus olhos de repente contemplam um brilho jamais visto
Era o brilho da água com o sol, refletidos no seu olhar
Segui aquele brilho
Senti o calor do sol no calor da sua pele
E resumi por minutos toda imensidão e beleza do mar...

No infinito do seu sorriso.

Gelson Bessa:.

segunda-feira, 27 de junho de 2011

A Alma, O Eu...


“Se quiséssemos trocar beijos e abraços e carícias,
Mas que mais vale estarmos sentados ao pé um do outro
Ouvindo correr o rio e vendo-o.”
(Fernando Pessoa).

***
Se sofremos tanto por causa de beijos e carícias, será que seria possível somente sentir o rio?
(A Alma).

***
Só se for um rio que venha desaguar na cachoeira do amor
E que venha banhar, encharcar corpos nus

Que a água límpida proveniente da sua nascente molhe a carne, os casais, namorados, amantes e os que não nomeiam seus sentimentos

Que essa água límpida, cristalina os lave e os faça limpos de tudo aquilo que possa sujá-lo, contaminá-lo um dia

Quer sejam beijos, abraços, carícias
É preciso senti-los, fazê-las

Quer seja um rio, quer seja amor
É possível ouvi-lo correr
Vendo-o, vivendo-o,
Sentido-o.
(O Eu).
Gelson Bessa:.